segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Perdas & Ganhos

“Por fim emergimos das águas mornas da infância e percebemos que existimos – no tempo.”

Essa é uma das realidades com que me deparei ao ler o livro “Perdas & Ganhos” de Lya Luft. Confesso que ainda não terminei de ler o livro, mas estou numa parte em que a autora fala sobre a velhice e o tempo.

Foi então que li aquela frase. E ela faz todo sentido, pois como a própria Lya escreve: ”na infância tudo é sempre agora” pois “estamos ocupados em viver”.

E é fato! Quando foi que paramos de viver em função do “agora”? Quando foi que começamos a viver o “agora” em função de prever o que virá “depois”?

E a verdade é que houve um momento em que percebemos que existimos no tempo, que nos deixamos levar pelo seu fluxo, e -por que não dizer?- que o tempo nos foi até mesmo imposto.

E aqui eu digo que “sim, isso me incomoda”. Porque eu não posso mais parar. Por que eu não posso mais parar? Por que diabos eu não posso mais parar?! Sinceramente, é isso que eu quero! Eu quero PARAR, quero ter TEMPO para sentir prazer nas coisas simples da minha vida! Eu quero VIVER o meu AGORA! Não quero continuar a sentir que meu dia passou rápido demais sem que algo de bom tenha acontecido! Porque não, não sou como boa parte das pessoas que “basta viver e pronto”! Eu quero SENTIR a minha VIDA!

Eu gostaria de acordar em meio ao silêncio, de fazer as coisas ao meu tempo, de viver ao meu bel-prazer. Eu gostaria de parar e sentir o calor do sol na minha pele, de sentir o vento fresco, de ouvir os pássaros cantando, de ver as crianças brincando na praça, de ouvir suas risadas... Isso, pra mim, é PAZ PROFUNDA.

Mas eu sempre sou carregada pela onda de pressa em que estamos vivendo. Não posso parar nem para apreciar os meus pensamentos, não posso parar nem para olhar com deslumbre as paisagens ou os rostos sorridentes que vejo em minha mente. Tem sempre alguém que me impõe o tempo, que não me permite parar.

E sei que haverá aqueles que me dirão: “O tempo é um estado de consciência”. Ao que eu previamente respondo: “Não há como não ter consciência do tempo quando ele está sendo martelado na sua cabeça!”.

E entretanto o Tempo é mesmo uma questão de perspectiva: Onde alguns dizem “ganhar tempo” eu veja as perdas; e onde outros apontam “perda de tempo” eu encontro os ganhos.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

O Veríssimo Sabe das Coisas

Dois contos (sensacionais) de Luís Fernado Veríssimo:


1) Era uma vez uma linda moça que perguntou a um lindo rapaz:

- Você quer casar comigo?

Ele respondeu:

- NÃO!

E a moça viveu feliz para sempre, foi viajar, fez compras, conheceu muitos outros rapazes ,transou bastante, visitou muitos lugares, foi morar na praia, comprou outro carro, mobiliou sua casa, sempre estava sorrindo e de bom humor, nunca lhe faltava nada, bebia cerveja com as amigas sempre que estava com vontade e ninguém mandava nela.

O rapaz ficou barrigudo, careca, o pinto caiu, a bunda murchou, ficou sozinho e pobre, pois não se constrói nada sem uma MULHER.

FIM!


2) Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.
Então, a rã pulou para o seu colo e disse:

– Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre…

E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava:

– Nem fo…den…do!

FIM!