sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Epifania Diária (16/11/13)

Hoje eu não a encontrei na fila da van. E tudo bem, nem sempre eu a encontro; mas eu sempre procuro, passo os olhos pelos rostos não familiares esperando encontrar o dela. Também não a encontrei no elevador ou nos corredores do prédio. Não tinha caído a ficha ainda, sabe. Eu tive que chegar na empresa, bater o ponto nove vezes até a máquina finalmente reconhecer minha digital, entrar na sala. Tive que olhar pra mesa dela e não ver nada do que devia estar ali pra memória bater. Bateu mesmo. Com força. Um tapa na cara bem estalado, com direito a dedo apontado me chamando de vadia.

Demissão. De verdade. Eu sei porque fui na copa, vasculhei todos os corredores, entrei em todas as salas: ela não estava. O que estava -em todo canto- era o silêncio debochado das paredes que já não vibravam ao timbre da voz dela. E era um silêncio ensurdecedor, só estando lá pra saber. Foi uma coisa que me oprimiu tanto que eu tive vontade de gritar. De gritar, e então de dar risada porque é engraçado mesmo; é engraçado como demitiram tudo menos a ausência dela. Engraçado como não tiraram as lacunas dos passos dela do chão, mas tiraram todos os seus pertences. E não me faça começar a falar sobre pertencer; o ponto não é esse.

O ponto é que ela não estava na fila da van, não estava nos corredores da empresa, não estava na sala. O ponto é que eu olhei pra trás as 16:43 e a mesa dela continuava vazia porque ela não estava mais lá, e nem mais estaria; e de repente... Eu não sei. Vai ver que essa coisa de só dar valor quando perde é real mesmo, sei lá. Eu só sei que naquela hora, eu senti que aquela mesa e eu tínhamos muito em comum.