sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Epifania Diária (16/11/13)

Hoje eu não a encontrei na fila da van. E tudo bem, nem sempre eu a encontro; mas eu sempre procuro, passo os olhos pelos rostos não familiares esperando encontrar o dela. Também não a encontrei no elevador ou nos corredores do prédio. Não tinha caído a ficha ainda, sabe. Eu tive que chegar na empresa, bater o ponto nove vezes até a máquina finalmente reconhecer minha digital, entrar na sala. Tive que olhar pra mesa dela e não ver nada do que devia estar ali pra memória bater. Bateu mesmo. Com força. Um tapa na cara bem estalado, com direito a dedo apontado me chamando de vadia.

Demissão. De verdade. Eu sei porque fui na copa, vasculhei todos os corredores, entrei em todas as salas: ela não estava. O que estava -em todo canto- era o silêncio debochado das paredes que já não vibravam ao timbre da voz dela. E era um silêncio ensurdecedor, só estando lá pra saber. Foi uma coisa que me oprimiu tanto que eu tive vontade de gritar. De gritar, e então de dar risada porque é engraçado mesmo; é engraçado como demitiram tudo menos a ausência dela. Engraçado como não tiraram as lacunas dos passos dela do chão, mas tiraram todos os seus pertences. E não me faça começar a falar sobre pertencer; o ponto não é esse.

O ponto é que ela não estava na fila da van, não estava nos corredores da empresa, não estava na sala. O ponto é que eu olhei pra trás as 16:43 e a mesa dela continuava vazia porque ela não estava mais lá, e nem mais estaria; e de repente... Eu não sei. Vai ver que essa coisa de só dar valor quando perde é real mesmo, sei lá. Eu só sei que naquela hora, eu senti que aquela mesa e eu tínhamos muito em comum.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Epifania Diária (21/10/13)

Começa com o reconhecimento do interesse - próprio, nem sempre do outro. Desenvolve-se com o flerte; de uma ou de ambas as partes. E então se inicia uma intrincada dança de conquista, nem sempre no sentido literal.

Não me leve a mal, eu amo a conquista. O flerte sutil - do toque, do olhar, do sorriso - e as provocações veladas - e às vezes, diretas. Me agrada profundamente o coquetel de charme, malícia, humor e criatividade com que se brinda o desejo entre duas pessoas.

Agora, apelando para o popular, o que me faz virar a mesa e atirar um vaso de valor inestimável da Dinastia Ming contra a parede é apenas isso: cu doce. Quando existe a perfeita concordância de desejos, quando a dança já está finalizada e a ultima nota há tempos já parou de reverberar, e ainda assim, uma das pessoas ainda cisma em dar passo pro lado e passo pro outro. Três palavras: levanto e saio.

Gosto de mulheres que são decididamente honestas em suas vontades: se eu quero e você quer, não existe razão pra continuarmos só no campo do querer. Nada de jogos, nada de longos silêncios, nada de se fazer de difícil. Pra que? É tempo que eu e você estamos perdendo quando já poderíamos estar nas delícias de descobrir uma a outra debaixo dos lençóis. E quem sabe? Nós poderíamos ter tido um encontro muito agradável, regado a flertes e provocações nas entrelinhas. Nós poderíamos ter tido um sexo gostoso e uma conversa pós-sexo das mais brilhantes.

Poderia sim acabar sendo uma coisa de uma vez só: foi bom, mas cada uma segue o seu rumo, cada qual com ótimas lembranças de um tempo que não foi desperdiçado.
Ou poderia ter surgido uma conexão, talvez uma não tão completa: foi maravilhoso! Vamos manter contato, fazer isso sempre que der vontade. Amizade colorida não machuca.
Mas então, a pergunta é: e se fosse mais do que você esperava? E se fosse mais do que você barganhou naquele primeiro momento de interesse? E se fosse magnífico? Mais do que o bastante pra começar algo além de amizade?

Entenda: eu não sou o caçador e você não é a caça; e nem vice-versa. Nós somos seres humanos, pessoas com vontades, desejos, medos e amores. Eu sou. E não mais nem menos do que você. Apenas tanto quanto. É puro e simples. O jogo? O jogo é social.
O jogo não é pra duas pessoas que criaram vínculos, o jogo não é pra pessoas que descobriram a intimidade, o jogo não é pra pessoas que dividiram confidencias. Em outras palavras, entre duas pessoas que possuem um relacionamento, o jogo não é. Não deveria ser.

Então francamente, meu amor, esquece essa coisa de "deixar na vontade". Vontade demais faz mal.