quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Epifania Diária (03/10/12)

Ela é assim mesmo.

Não pede licença, não espera, mas também não se apressa. Chega e você nem vê, vai antes que você sinta. Ela simplesmente acontece. Chega causando, como dizem por aí. Vida é o seu nome, bagunça é o que Ela faz. Mas, diga-se de passagem, é sempre a bagunça mais acertada que poderia existir.

A Vida não chora, não se lamenta. Segue em frente, não importa o que aconteça. Risonha como uma criança, travessa por vezes, corre livre a dar piruetas, e quando você já está apostando que lhe fará uma travessura daquelas de derrubar, Ela sorri e lhe estende a mão. Plena, serena. Sábia que só, a Vida não se importa e nem se preocupa: está tudo certo, está tudo bem.

Há de se achar, vez ou outra, que Ela nos desfavorece, e temos então certeza da sua crueldade e injustiça. Porém não há motivo pra desespero, creiam-me: da ultima vez que Ela me aprontou uma armadilha, apontei-lhe o dedo e cuspi em sua cara todas as minhas verdades. Ela deu aquela risada gostosa que só a Vida sabe dar, e com os olhos divertidos e suaves, me disse "Relaxa, relaxa. Está comigo, está com Deus". E Ela estava certa mesmo, como sempre. Minha queda me proporcionou a melhor das oportunidades.

Sem pé nem cabeça, incerta, misteriosa, sem sentido, dizem uns. É certo que o jeito imprevisível dela nos dá aquela frustração, mas não há o que fazer, só Ela se entende, de modo que só nos resta confiar.
A Vida, de tão louca, já não nos bate a porta: entra pela janela, senta no teto e diz para nos sentirmos a vontade.

"Faz de conta que a casa é sua", Ela ri, e nos convida a ficar.

domingo, 16 de setembro de 2012

Teresópolis 16/09/12

Eu juro que tinha um discurso perfeitamente coerente quando resolvi te ligar. E então você atendeu o telefone, e a sua voz me chamando de "amor" me deixou completamente desorientada.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Eu a Quero, de Dia e de Noite

Assim era de dia: ela não tinha o ímpeto que me fez crer que tinha. Tinha na verdade uma suavidade indiferente (ou uma indiferença suave, se a suavidade puder, também, ser gritante). Não me beijava como achei que faria, não me tocava como eu queria que tocasse. Me deixava solta, me deixava de lado, me deixava confusa, me deixava pra lá. Não me dava qualquer pista do que fazer, de como agir, do que ela queria, pensava ou sentia. Se sentia.

Ela era orgulhosa. Eu meio que achava graça, meio que me sentia frustrada. Ela não pedia ajuda, não aceitava ajuda. Não queria ser vista como "fresca", "mulherzinha", "dependente", "fraca". Queria ser a forte, e talvez me achasse fraca pela minha suavidade gentil (ou minha gentileza suave). Mas, bem, ela não seria a primeira a supor tal fraqueza em mim.

Ria fácil, sim. Fácil demais até: costumo suspeitar de pessoas que riem de qualquer coisa, parece existir um desespero velado dentro delas. E nela eu pude perceber medos, inseguranças, desolação. E ainda assim... Por que me encanta? Como me prende? Sua risada preenchia, seu sorriso encantava, sua agressividade -eu levava um tapa pra cada gracinha que fazia, e quantas eu fiz!- me divertia. Sua indiferença me frustrava, não tinha jeito, e seu jeito de brincar com meus sentimentos me tirava do sério.

Ela me irritou, machucou, magoou. Mas no fim do dia tudo era esquecido. Era aquele gesto, o beijo, o abraço, o aconchego, e tantas, tantas outras coisas. Cada toque me fazia querer mais, porque era de noite, no quarto, que ela se permitia o afeto. Existia ela-de-dia e ela-de-noite. E se de dia era a indiferença, era a restrição, de noite... Ah, de noite...

De noite eram as conversas profundas, as conversas bobas e sinceras, as risadas gostosas e espontâneas, de noite eram cartas na mesa.  De noite eram aquelas palavras, ditas daquela maneira, era aquele tom de voz, voz que ressoa na minha cabeça até hoje. De noite era aquele olhar, aquele toque, aquela carícia, aquele beijo que eu pareço ainda carregar no corpo, eram aquelas mordidas, que de tão leves me enlouqueciam, me faziam pedir por mais.

E dormíamos. O que, aliás, me faz falta: agora eu apenas durmo, tão notável é a ausência do seu corpo emoldurando o meu a noite. E verdade seja dita, mesmo com todos os poréns, eu dormia melhor com o perfume dela na minha pele, com a respiração dela na minha nuca.

sábado, 21 de julho de 2012

Além de mim

Passada a fase de não dar a mínima pros outros, passada a fase de olhar só pra mim, as preocupações -que nunca me deixaram, mas se calaram por um tempo- voltam. As minhas tantas preocupações com eles.

Me aflige ver ~ela~ mergulhada em tristezas, não superando, se amargurando, se prendendo a realidade dos pessimistas. Me dói quando ela diz que não foi feita pra felicidade. Também existe arte, escrita, musica, feitos de alegria. A tristeza não é tudo que se pode transmitir, nem tudo que te traduz. Senão, o que dizer da esperança?

Me preocupa não saber ~dele~. Estar longe, por mais que necessário, me inquieta. Eu o tive sob as minhas asas por tanto tempo... Era o que me acalmava, ou assim eu pensava, quando na verdade ja era quase patológico a minha necessidade de ser necessária, de sentir que ele precisava de mim. Mas ele não precisa. Ele pode se erguer sobre seus próprios pés, superar suas próprias dificuldades -que, suspeito, sejam mais fáceis de encarar sem que eu esteja por perto pra interferir- se desenvolver como pessoa. Eu o estagnava. E estranhamente ou não, eu acredito mais nele agora do que acreditava antes. O que me acalma hoje é saber que ele é uma pessoa maravilhosa independente de me ter por perto ou não, saber que ele vai seguir seu caminho da melhor forma que puder, e eu rezo pra que esse caminho se cruze com o meu mais uma vez. O que me acalma hoje é ter fé.

Me preocupa a saúde ~delas~. Me preocupa seus vícios físicos e psicológicos. Claro, uma cerveja é boa de vez em quando, o dia todo não. Me preocupa aquela tristeza que chega quase sem motivo, ou por motivo pouco. Ou aquela raiva ou aquele orgulho. Me preocupa que não exponham tudo o que sentem. Me dói aquele jeito de dizer que tudo bem receber um fora meu que aconteceu sem motivo. Me preocupa que me achem certinha. Mas que estejam juntas e que tenham uma a outra, isso me alivia. E é tamanho o bem que eu vejo uma fazer a outra, que as vezes penso que sou apaixonada por seu namoro. É confortante até pra quem só fica por perto.

Me preocupa, também, ~ela~. Ela que chora e eu não sei. Ela que ri e eu não sei. Ela que vive e eu não sei. Tão distante. Não se envolve, não demonstra, não corresponde. Finge, blefa, joga, agride. Mas que na calada da noite me abraçou forte, riu, falou besteiras, falou coisas sérias, beijou minhas costas e respirou na minha nuca. Se entregou ao momento. E com ela eu tenho medo, medo por ela tanto ocultar. Por mais que ela possa não sentir nada por mim, por mais que eu seja só um rolo, só um caso, só uma transa, eu me preocupo. Porque eu me importo.

Porque eles importam.

Aos Amigos

Eu mergulhei em mim.
É isso que eu tenho feito, ido cada vez mais fundo, me explorando, me descobrindo.
Digo, quando que eu poderia imaginar que eu seria capaz de sentir raiva? De dar um fora em alguém (sem ser de brincadeira)? De não aceitar, de não tolerar, de não ter paciência, de comprar briga, de seguir a minha vontade? E quem diria que eu conseguiria ser pontual?

Entendam, é uma coisa minha, uma jornada minha, são Umbrais que eu não conseguiria adentrar (e sair) com vocês por perto. Então sim, eu me afastei dos mais próximos, mantive os mais distantes. Era o momento pra isso. Intuitivamente sabia que algo estava pra mudar, e sabia que seria drástico, sabia que seria difícil de superar pra mim, e ainda mais para aqueles com quem eu era mais conectada.

Fui egoísta (sempre fui, mas essa foi a minha maior e mais aberta demonstração de o ser), não fui uma boa amiga, sequer considero que tenha sido uma boa pessoa, tamanha era a minha aflição com o que eu estava me tornando.

Pareceria muito com uma desculpa dizer "foi para o seu próprio bem". Foi. Mas eu diria que foi mais pro meu bem. Eu odiaria ter que fazer vocês passarem por aquele período comigo. É simples assim.

E no entanto, por favor, não pensem que os abandonei. Eu apenas os coloquei longe de mim.

E assim, relembro-os: Longe é um lugar que não existe.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Epifania Diária (05/02/12)

Parecia que a lua estava tão cheia que poderia transbordar.
Observei-a, admirada, e assim passei a noite: ansiosa, na expectativa de que uma gota de lua fosse cair sobre mim. 
Fiquei surpresa quando de fato aconteceu. Me senti então banhada e preenchida por um calor suave e resplandescente enquanto era tomada, também, pela vertigem do acontecimento. Ali estava: o Momento Perfeito de toda uma vida!

Essa foi a sensação de um beijo seu.

Epifania Diária (17/06/12)


Compreendi: o Universo constantemente conspira a nosso favor.
É preciso, entretanto, consentir com Seus meios, comungar em harmonia com Seu fluxo, e acreditar em Seus desígnios.
Não resistir a Sabedoria Divina é o caminho dos bem-aventurados.
Nem sempre é um caminho fácil: duvidar e resistir são vícios humanos.

Epifania Diária (16/06/12)

Sobre mudanças:

Todas elas vêm com uma advertência: as coisas jamais serão as mesmas.
E, igualmente, vêm com uma promessa: serão ainda melhores!
O resultado da mudança como positiva ou negativa vai depender das suas escolhas: aceitar ou não a advertência, acreditar ou não na promessa.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

ESTÓRIAS DE MICHAEL.

Chamava-se DEUS.

Não era Pedro ou João de Deus, nem mesmo ostentava outro qualquer nome. Atendia apenas por DEUS.

E com um nome desses, tão simples, nome que perambulava pela boca do povo a todo instante e em todas as partes, DEUS primava pela simplicidade. Diríamos até ser um pouco tímido, avesso que se mostrava a demonstrações que causassem espetaculosidade.

Enfim, DEUS era naturalíssimo.

Assim, DEUS passeava sua simplicidade pelo mundo sem que a ele dessem maior atenção. Tudo via e ouvia calado. Vez ou outra arriscava um palpite que, quando acolhido, mostrava-se sempre acertado. Na calada, DEUS sabia das coisas... e como sabia! Mas era discreto, muito discreto. Como dizem, ficava na sua...

Porém havia um traço, uma particularidade que o diferenciava dos demais. Não havia problema, dificuldade alguma que a ele submetida não tivesse solução. Havia sempre um jeitinho a dar, mesmo que a princípio não entendessem seus modos e maneiras. Diziam que escrevia certo por linhas tortas.

DEUS, de maneiroso, afirmavam alguns, era brasileiro... tinha também suas espertezas, suas manhas.

Outros, por maledicência ou ignorância, talvez ambas, diziam, à boca pequena é claro, que DEUS tinha parte com o diabo.

Ora vejam!...

Jamais o viram reclamar de alguma coisa, quer pela indiferença de alguns, pelo descrédito de outros. Pleno de serenidade, dele emanava uma sensação de paz que em seu redor a tudo harmonizava.

Interessante é que fazia isto graciosamente, gentil que era no trato. DEUS era boa gente.

E sem queixumes, sem reprimendas, a todos acolhia com amor. De tão bom, DEUS não existia... positivamente não era só deste mundo.

Um dia, como sempre um dia, DEUS desapareceu.

Ausência que a princípio não foi percebida, de insignificante.

Tudo continuou como dantes. Sabem como é, não?

As pessoas com seus afazeres, suas preocupações de sempre, cada qual voltada para sua própria vida não encontrava tempo para se incomodar e questionar o sumiço de um cara qualquer.

Além do mais quem poderia saber o paradeiro de alguém que andava para baixo e para cima ao léu? Conhecido por todos e sem domicílio fixo, poder-se-ia dizer que era um cidadão do universo. Parecia estar em toda parte ao mesmo tempo, como se possível fosse.

DEUS não tinha ninguém, a não ser ele mesmo, pobre coitado!

O desaparecimento desse ninguém – perdão! – de DEUS, fato banal, pouco a pouco foi adquirindo outros contornos à medida em que os problemas foram se acumulando sem solução e não havia a quem recorrer. Os tons se fizeram mais fortes. Um silêncio opressivo, só ousado quebrar pela voz da consciência, uma angústia lacerante avizinhou-se e eclodiu em forma e significado.

O vazio trouxe a exata medida da presença que se fora.

Por Deus! Onde andaria DEUS?

Onde se meteu essa criatura?

Procurem-no! Não... não... achem-no!

Quem irá agora nos aconselhar?

E nossos problemas particulares? Afinal são importantes!

Merecemos maior consideração, ele não devia desaparecer assim!

Quem ele pensa que é?

Uma das filhas diletas do desespero é a indignação.

Na crise, DEUS era essencial.

E a ausência preencheu a mente de todos. Nada mais tinha razão, pois não há razão para uma razão desprovida de sentido e para que sentido se nada havia para se perceber?

Afinal, perguntou alguém ainda lúcido, por que DEUS a si foi?

Nunca lhe fizemos mal, responderam.

Todas as vezes em que tínhamos alguma dificuldade a ele recorríamos.

Lembram-se daquela ocasião em que meu filho já havia sido desenganado pelos médicos? Nada mais restava fazer e no entanto...

E desfilaram verdades acompanhando o séquito da gratidão nunca sentida.

E mais que as verdades a procissão das realidades inequívocas, não sujeitas aos estreitos limites espaço-temporais, fez-se presente testemunhando as vezes sem conta em que aquela mão branda, aquela palavra meiga, tinham-lhes mitigado a sede da alma e a fome do corpo.

Cabisbaixos se inquiriam de como reencontrar, já agora, DEUS.

Não seria por que distantes de nossas origens, ao nos afastarmos da natureza, Dele tenhamos nos apartado?

Então, nós O relegamos ao esquecimento, sentenciaram.

Não seria por que a Ele só buscávamos como um ser capaz de satisfazer nossas próprias necessidades e sem nunca proferirmos uma palavra, um gesto de agradecimento sequer?

Então, nós O recebemos como a um objeto, concluíram.

Talvez por que não soubemos repartir o muito que nos deu com outros menos afortunados?

Então, não expressamos a Lei do Amor como sendo Fraternidade, entenderam.

Cegos e insensatos viramos-Lhe as costas e por nossos sentimentos egoísticos deixamos de intuir a Luz.

As sombras, lentamente de início, céleres depois, engolfaram o que presumíamos serem nossas existências.

E cada qual adentrou-se em busca dos caminhos por onde andava DEUS, conscientes agora de que para reencontrá-Lo teriam que vivenciá-Lo como o seu fim último.

Então, e só então, voltou a dar o ar de sua graça.


QUIS UT DEUS?

(QUEM É COMO DEUS?)


- KUAN (FSRB)