quarta-feira, 25 de julho de 2012

Eu a Quero, de Dia e de Noite

Assim era de dia: ela não tinha o ímpeto que me fez crer que tinha. Tinha na verdade uma suavidade indiferente (ou uma indiferença suave, se a suavidade puder, também, ser gritante). Não me beijava como achei que faria, não me tocava como eu queria que tocasse. Me deixava solta, me deixava de lado, me deixava confusa, me deixava pra lá. Não me dava qualquer pista do que fazer, de como agir, do que ela queria, pensava ou sentia. Se sentia.

Ela era orgulhosa. Eu meio que achava graça, meio que me sentia frustrada. Ela não pedia ajuda, não aceitava ajuda. Não queria ser vista como "fresca", "mulherzinha", "dependente", "fraca". Queria ser a forte, e talvez me achasse fraca pela minha suavidade gentil (ou minha gentileza suave). Mas, bem, ela não seria a primeira a supor tal fraqueza em mim.

Ria fácil, sim. Fácil demais até: costumo suspeitar de pessoas que riem de qualquer coisa, parece existir um desespero velado dentro delas. E nela eu pude perceber medos, inseguranças, desolação. E ainda assim... Por que me encanta? Como me prende? Sua risada preenchia, seu sorriso encantava, sua agressividade -eu levava um tapa pra cada gracinha que fazia, e quantas eu fiz!- me divertia. Sua indiferença me frustrava, não tinha jeito, e seu jeito de brincar com meus sentimentos me tirava do sério.

Ela me irritou, machucou, magoou. Mas no fim do dia tudo era esquecido. Era aquele gesto, o beijo, o abraço, o aconchego, e tantas, tantas outras coisas. Cada toque me fazia querer mais, porque era de noite, no quarto, que ela se permitia o afeto. Existia ela-de-dia e ela-de-noite. E se de dia era a indiferença, era a restrição, de noite... Ah, de noite...

De noite eram as conversas profundas, as conversas bobas e sinceras, as risadas gostosas e espontâneas, de noite eram cartas na mesa.  De noite eram aquelas palavras, ditas daquela maneira, era aquele tom de voz, voz que ressoa na minha cabeça até hoje. De noite era aquele olhar, aquele toque, aquela carícia, aquele beijo que eu pareço ainda carregar no corpo, eram aquelas mordidas, que de tão leves me enlouqueciam, me faziam pedir por mais.

E dormíamos. O que, aliás, me faz falta: agora eu apenas durmo, tão notável é a ausência do seu corpo emoldurando o meu a noite. E verdade seja dita, mesmo com todos os poréns, eu dormia melhor com o perfume dela na minha pele, com a respiração dela na minha nuca.

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